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Sábado, 17 de Março de 2018
Visita ao Navio Hospital Gil Eannes

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Visita ao Navio Hospital Gil Eannes

Quando navegavam na Terra Nova e nos Grandes Bancos, os navios portugueses da pesca do bacalhau até 1923, ficavam por conta própria sem qualquer assistência, quando algum tripulante adoecia ou ficava ferido com gravidade, a única solução era rumar a terra normalmente para o porto de St. John’s no Canadá.

Em 1923 a marinha de guerra portuguesa decidiu enviar um navio para os Grandes Bancos com o objectivo de prestar assistência á frota de pesca á linha.

Foi então escolhido para esta função o cruzador Carvalho Araújo, mas por infelicidade logo na sua viagem inaugural o navio encalhou devido aos nevoeiros na costa sul da Terra Nova, tendo conseguido safar-se pelos próprios meios 24 h depois do encalhe. Não é claro se o navio ainda prestou assistência á frota de pesca nessa campanha.

Depois do acidente com o Carvalho Araújo só em 1927 voltou a ser enviado um navio para assistência da frota de pesca portuguesa, tratava-se do navio Gil Eannes, ex. Lahnec, que tinha sido aprendido aos alemães, durante a primeira guerra mundial quando se encontrava fundeado no rio Tejo, tendo sido transformado em navio-hospital, missão que durou até 1954.

Em 1955 um novo navio que estava em construção ficou pronto e entrou ao serviço como navio-hospital foi-lhe atribuído, (mais uma vez), o nome de Gil Eannes e é o navio museu flutuante que pode ser visitado em Viana do Castelo terra onde foi construído.

Este moderno navio tinha uma tripulação de sessenta e dois homens. O Gil Eannes foi o primeiro navio especificamente projectado para operar nos grandes bancos como navio hospital, com dois blocos operatórios, aparelhos de radiografia, laboratório de análises, salas de isolamento, sala de estomatologia, três médicos, vários enfermeiros, elevador de dimensões suficientes para transportar macas e acamados.

Os serviços médicos do Gil Eannes estavam disponíveis para tripulantes de navios de outros países, mediante pagamento de uma taxa, à excepção dos canadianos que recebiam os serviços gratuitamente como reconhecimento pela hospitalidade oferecida á frota portuguesa no Canadá, especialmente na Terra Nova que fazia parte da confederação do Canadá.

Para além de navio hospital, o Gil Eannes também estava capacitado para fornecer abastecimentos á frota, como água, combustível, carvão para os fogões das cozinhas e frescos. A tripulação independentemente das condições climáticas e da agitação marítima tinha de transferir pacientes em macas, realizar operações, prestar todo o tipo de socorro no mar, como acorrer a naufrágios, recolhendo os náufragos. 

O Gil Eannes efectuou a sua última viagem de assistência à frota bacalhoeira em 1973, esteve parado durante algum tempo e em 1975 iniciou novamente atividade como navio comercial transportando bacalhau seco da Noruega para Lisboa, ao serviço da Comissão Reguladora do Comércio do Bacalhau.

Ainda em 1975 foi requisitado pelo Governo Português para apoiar a independência de Angola, como navio hospital, terminada essa missão voltou a ser armado para viagens comerciais, tendo navegado pela Noruega, Canadá, Nova Inglaterra, África do Sul, República dos Camarões e Espanha, terminou a sua actividade em 1984.

A partir de 1984 o navio foi-se degradando de cais em cais no porto de Lisboa, onde foi sendo sucessivamente pilhado de grande parte do seu equipamento, até ser vendido para abate em 1997, nesse mesmo ano incentivada pela Câmara Municipal de Viana do Castelo, a comunidade vianense mobilizou-se, para trazer aquele ícone da história marítima portuguesa para a cidade onde nascera.

Ainda em 1997 foi constituída a Comissão Pró-Gil Eannes com o objetivo de angariar meios financeiros para resgatar o navio Gil Eannes da sucata evitando o seu desmantelamento. Em 1998, a referida Comissão deu origem à Fundação Gil Eannes, atualmente proprietária do navio e nesse ano o navio chegou à cidade que o viu nascer para ser exposto no porto de Viana do Castelo.

O histórico Gil Eannes entrou nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo ainda em 1998 para trabalhos de limpeza e reabilitação, contando com o apoio de várias instituições, empresas e da sociedade civil em geral, criando dessa forma as condições necessárias para a sua abertura ao público em Agosto desse mesmo ano.

Em 2000 foram realizadas obras de beneficiação alargando o percurso de visita permitindo hoje aos visitantes, visitar a ponte de comando, quartos de oficiais, sala de radio telegrafistas, cozinha, padaria, casa das máquinas, elevador de transporte de doentes em macas, consultórios médicos, enfermarias, sala de tratamentos, gabinete de radiologia, laboratório de analises, bloco operatório, camarotes, capela, uma sala de exposições temporárias, uma sala de reuniões, uma loja de recordações.

Visitei, a 24 de Fevereiro de 2018, o Gil Eannes Navio Hospital. Este navio é hoje um museu flutuante que, não só retrata as suas funcionalidades enquanto navio hospital, mas também muito do que foi aquilo que considero ser a ultima grande epopeia marítima dos portugueses, a pesca do bacalhau nos mares da Terra Nova e Gronelândia.

Os homens que, primeiro em navios à vela e mais tarde a vela e motor, rumavam aos mares gelados e tempestuosos da Terra Nova e Gronelândia nas décadas de 50 e 60, não só eram excelentes pescadores como extraordinários marinheiros. No auge da pesca do bacalhau à linha, utilizando os Dóris, pequenas embarcações individuais para a captura dessa extraordinário peixe, usavam somente linhas de mão, navegando com a ajuda de uma pequena vela ou a força dos braços nos remos.

São esses homens, marinheiros e pescadores, os derradeiros heróis da epopeia marítima portuguesa. É um pouco da história desses heróis que o navio hospital Gil Eannes nos conta, uma história que em cada campanha era feita de sacrifícios, de perseverança, de muitos perigos, de alegrias e tristezas e de muita saudade.

Visitar o Gil Eannes Navio Hospital não é só absorver a história, o conhecimento que o navio nos transmite é também, e principalmente, homenagear todos os que foram e voltaram, e todos os que la ficaram.

Por: António de Lemos

Bibliografia:

Os Navios da Pesca à Linha, autor, Jean Pierre Andrieix, edição Fundação Gil Eannes.

Faina Maior – A Pesca do Bacalhau nos Mares da Terra Nova

BLOGUE DO MINHO – Espaço de informação e divulgação da História, Arte, Cultura, Usos e Costumes das gentes do Minho e Galiza, http://bloguedominho.blogs.sapo.pt/202358.html

Fotografia, António de Lemos



publicado por António Lemos às 14:45
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