«O Resgate Desnecessário de Portugal», Robert Fishman, sociólogo norte-americano.
Portugal foi vítima da «pressão injusta e arbitrária» dos mercados financeiros internacionais, que ameaça Espanha, Itália e Bélgica e outras democracias em todo o mundo, defende o sociólogo norte-americano Robert Fishman. Em artigo no New York Times de hoje, intitulado «O Resgate Desnecessário de Portugal», Fishman diz que o pedido de ajuda português, depois do irlandês e do grego, «deve ser um aviso a democracias em todo o lado», porque «não é realmente sobre dívida».
«Portugal teve um forte desempenho económico nos anos 1990 e estava a gerir a sua recuperação da recessão global melhor que vários outros países na Europa, mas foi sujeito a uma pressão injusta e arbitrária dos negociadores de obrigações, especuladores e agências de rating », afirma o professor de sociologia da Universidade de Notre-Dame.
Estes agentes dos mercados financeiros conseguiram, por «razões míopes ou ideológicas» levar à demissão de um Governo democraticamente eleito e potencialmente «atar as mãos do que se lhe segue», adianta Fishman, autor de um livro sobre o euro. «Se forem deixadas desreguladas, estas forças de mercado ameaçam eclipsar a capacidade dos governos democráticos - talvez mesmo dos Estados Unidos - para fazer as suas próprias escolhas sobre impostos e gastos», sublinha Fishman.
O sociólogo estabelece semelhanças entre Portugal e a Grécia e Irlanda, mas ressalva que enquanto estes dois países apresentavam «problemas económicos claros e identificáveis», Portugal «não tinha subjacente uma crise genuína» e foi sim «sujeito a ondas sucessivas de ataques por negociadores de obrigações».
O contágio no mercado e os downgrades de ratings tornaram-se numa «profecia que se realiza a ela mesma», uma vez que as agências «forçaram o país a pedir ajuda elevando os seus custos de financiamento para níveis insustentáveis».
«Distorcendo as percepções de mercado da estabilidade de Portugal, as agências de rating - cujo papel de favorecimento da crise do subprime nos Estados Unidos foi amplamente documentado - minaram quer a sua recuperação económica, quer a liberdade política».
Agora, Portugal enfrenta políticas de austeridade impopulares, que vão afectar empréstimos a estudantes, pensões de reforma, alívio da pobreza e salários da função pública.
Fishman sugere que as descidas de rating e pressão sobre a economia resultaram ou de «cepticismo ideológico em relação ao modelo de economia mista em Portugal», ou de «falta de perspectiva histórica» relativamente a um país onde o nível de vida subiu rapidamente nos últimos 25 anos, tal como a produtividade, enquanto o desemprego desceu. Embora o optimismo dos anos 1990 tenha resultado em «desequilíbrios económicos resultado de gastos excessivos», Fishman defende o desempenho recente do país pós, e mesmo que a queda do governo é «política normal» e «não incompetência, como alguns críticos de Portugal têm retratado».
O sociólogo levanta também a questão de o BCE não ter comprado obrigações portuguesas de forma «agressiva» para afastar a última onda de «pânico» nos mercados, e a necessidade de regular as agências de rating na Europa e Estados Unidos.
«A revolução portuguesa de 1974 inaugurou uma onda de democratização que varreu o globo. É bem possível que 2011 marque o início duma onda de usurpação da democracia por mercados desregulados, com a Itália, Espanha e Bélgica como próximas vítimas potenciais», afirma, Robert M. Fishman
Ao ler este artigo não podia deixar de o colocar neste blogue, espero que sirva para a aqueles que o lerem, reflectirem no alerta que transmite, e tenham em conta que quem o escreveu não é nenhum extremista de esquerda. António Lemos
Robert M. Fishman, é professor de Sociologia e membro da Kellogg e Institutos Nanovic na Universidade de Notre Dame, é um comparativista que trabalha na democracia e na prática democrática, política e cultura, e as consequências da desigualdade. Antes de vir para a Universidade de Notre Dame, Fishman foi professor adjunto de Governo e de Estudos Sociais da Universidade de Harvard, foi também professor visitante do Centro de Estudos Avançados em Ciências Sociais do Instituto Juan March (Madrid) e da Universitat Pompeu Fabra (Barcelona).
Fishman doutorou-se em Sociologia pela Universidade de Yale e é membro da American Sociological Association e da American Political Science Association. Robert M. Fishman está actualmente a escrever um livro analisando as diferenças na prática democrática e de resultados sociais entre "terceira onda" pioneiros Portugal e Espanha, a Península Ibérica vizinhos que, por caminhos quase opostos polares da mudança, iniciada em todo o mundo do século XX a expansão tardia do regime democrático.
Esse trabalho leva a justaposição entre as várias semelhanças históricas e estruturais dessas sociedades vizinhas e suas divergências importantes após o retorno à democracia na década de 1970 como base para representar uma série de grandes questões teóricas sobre o funcionamento da democracia e da dinâmica que determina quão bem os sistemas representativos aproximar o objectivo democrático de plena igualdade política entre os cidadãos.
Os livros publicados de Fishman incluem o Vozes da Democracia , vencedor em 2005, de Menção Honrosa para o Melhor Livro em Sociologia Política, O Ano do Euro (com Anthony Messina), O Retorno à Democracia em Espanha, Vozes Democracia e Organização da Classe Trabalhadora, também foram publicados em espanhol. Foram publicados muitos artigos de Fishman, numa selecção desses artigos inclui, análises teóricas sobre a diferenciação entre estados e regimes de democratização criticando o conceito de capital social, bem como o trabalho metodológico sobre a abordagem weberiana à ciência social na lógica para estudar os movimentos trabalhistas a partir da perspectiva dos líderes locais de trabalho, Fishman também publicou trabalhos sobre a integração europeia e sobre os determinantes sociológicos das vocações sacerdotais, assim como outros temas.
E-mail: rfishman@nd.edu
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