Não embarco na histeria da questão “praxes” académicas que tantas horas de comunicação social têm ocupado!
São tantos os temas preocupantes da sociedade que vão sendo abafados, ficando para trás, fruto do marasmo e da instrumentalização de um povo que vai fechando os olhos, acomodado á miserável realidade em que vive.
São os velhos que vão engrossando as estatísticas dos óbitos de inverno mas que na realidade morrem mesmo é de fome, frio e abandono, ou das crianças que vão para a escola de barriga vazia e “matam” muitas vezes a fome precisamente na escola com a única refeição que tem até ao dia seguinte, ou ainda dos desempregados jovens, (os que não conseguem emigrar), ou os desempregados de longa duração em que o empobrecimento é uma estrada que leva muitas vezes á perda de habitação e á consequente vida de sem abrigo.
É a crescente destruição do estado social, o ataque aos direitos do trabalho, o ataque ao direito á saúde, o ataque ao direito á educação e á cultura, é o desrespeito á Constituição da República Portuguesa a começar por aqueles que juraram defende-la e zelar pelo seu cumprimento.
Sobre as “praxes” académicas deixo este artigo escrito com clareza e objectividade do sociólogo Elísio Estanque. António Lemos
21-10-2010 Diário de Coimbra - Os sentidos da "praxe", ontem e hoje
No seu sentido antropológico, o fenómeno dos "rituais de iniciação"; pode ocorrer em diversos grupos e comunidades, servindo para marcar a "passagem"; de uma condição a outra ou a entrada de um novo membro. A sua importância será tanto maior quanto mais se trate de culturas coesas, fechadas e conservadoras, ou seja, aquelas cuja identidade se funda nas raízes e no passado. Os recém chegados são sujeitos a provas inequívocas de submissão à normas vigentes no seio do grupo ou da categoria onde acabaram de ingressar. Na tropa de elite, nos grupos religiosos fundamentalistas, em alguns colégios internos, em comunidades étnicas isoladas, etc., a iniciação dos novos "recrutas"; é particularmente dura e violenta, mas é suposto constituir uma forma eficaz de integração.
Certamente que essas tradições estão na origem da chamada "praxe académica";, que tem na Universidade de Coimbra o seu principal berço. No seu sentido mais lato, a praxe não se limita aos jogos de poder exercidos pelos mais velhos sobre os caloiros. Ela liga-se também à rigidez da hierarquia universitária e exprime-se numa sucessão de rituais institucionais que acompanham o académico ao longo de toda a sua carreira, desde que se inicia como estudante até – no caso dos docentes – à aula de jubilação, passando pelos actos solenes que decorrem na Sala dos Capelos (Doutoramento, provas de Agregação, etc.), onde a intensidade ritualista e o poder simbólico são ostentados em todo o seu esplendor.
Porém, pode dizer-se que, na cultura académica de Coimbra, as praxes (incluindo o uso da capa e batina) transportaram em diversos momentos, para além do sentido reprodutor da hierarquia e do fechamento da colectividade, um grande potencial de irreverência e até de dissensão política (cujo ponto alto terá sido a crise académica de 1969). Essa dimensão acompanhou no passado a vertente lúdica, burlesca e irónica, presente nos ambientes de boémia, nas tabernas, nas «Repúblicas» e na cultura estudantil em geral, desde tempos imemoriais.
Ora, esse passado alterou-se radicalmente nas últimas décadas. A universidade abriu-se, massificou-se e feminizou-se, tornando as praxes anacrónicas na sua actual forma. Com mais ou menos adulterações, o certo é que os contornos que hoje assumem espelham a vacuidade de valores, a desinformação e a superficialidade consumista em que navega a geração que mais beneficiou da democratização do acesso à universidade. O fantástico aumento da quantidade de estudantes, de mulheres e de descendentes da classe trabalhadora no ensino superior – num quadro em que as políticas de ensino são orientadas pela obsessão dos resultados estatísticos – só podia conduzir à perda de qualidade. E a própria mentalidade dos estudantes, os seus comportamentos, incluindo os jogos e rituais da praxe, se ressentem dessa tendência.
Hoje, tanto o espírito de irreverência como a função integradora das praxes praticamente desapareceram. O que persiste é a atitude marialva e sexista, de que se reveste a cultura praxista, herança de um tempo em que às mulheres era vedado o acesso à universidade (apesar de estarmos numa academia maioritariamente feminina). Em vez de se adaptarem à nova realidade, as regras da praxe foram deturpadas no pior sentido. O ritualismo actual mistura-se com a mercantilização dos lazeres e dos consumos juvenis. Por um lado, actividades como as saídas semanais para os bares e discotecas (que se repetem em dias certos da semana), as festas da Latada e da Queima das Fitas, os lazeres estudantis, etc., – e a própria actividade da Associação Académica (AAC), por exemplo –, são largamente formatados por patrocinadores, marcas e interesses económicos e, por outro lado, a actual geração de universitários revela um generalizado desconhecimento e indiferença perante a propalada "autenticidade"; do "Código da Praxe";, defendida pelo auto-designado "Conselho de Veteranos";.
Quem, como eu, assiste à repetição anual destes rituais, não pode ficar indiferente às formas alarves e fúteis (por vezes violentas e quase sempre humilhantes) de que muitos deles se revestem. Em Coimbra é comum deparamo-nos com grupos de jovens a exibirem-se em plena rua em tais posturas. Ainda há dias observei, estupefacto, umas vinte meninas a gritar frases de conteúdo obsceno ("nós só queremos é f....";) a mando das/os mais velhas/os. Coradas e imberbes ali estavam elas – contentes ou humilhadas, não se sabe, porque era proibido rir – sob a batuta dos/as pseudo-doutores/as, a mostrar a sua face mais ordinária.
Perante isto, o que se pode concluir é que a praxe perdeu autenticidade e perdeu sentido. E corre o risco de resvalar para uma generalização de comportamentos anti-sociais (e obrigar à acção repressiva), caso a colectividade, a começar pelo corpo estudantil, as estruturas associativas e as instituições universitárias não saibam travar a tempo as formas "rascas"; de que a mesma se vem revestindo nos últimos tempos.
Elísio Estanque
Quando os políticos por populismo, por interesses partidários, por agendas eleitorais, passam a banalizar o Panteão Nacional, mais não fazem que desrespeitar a memória dos que já lá estão e dos que nunca para lá foram.
Afirmar que Eusébio foi alguém que se notabilizou a dar pontapés numa bola é a maior das verdades. Afirmar que Eusébio foi usado pelo regime fascista para lavar a cara da ditadura de Salazar e Caetano, também é uma grande verdade!
O regime fascista serviu-se de Eusébio para tentar branquear o racismo, o colonialismo, para tentar minorar os efeitos da luta dos povos das ex-colónias a nível internacional, quer queiramos quer não Eusébio foi utilizado para como factor de domínio de massas pelo regime fascista, não por sua culpa mas por culpa dos fascistas que dominavam e oprimiam o povo português.
Na sua ingenuidade e simplicidade Eusébio foi elevado ao estatuto de herói nacional quando marcou 4 golos á Coreia do Norte em 1966, quando o antigo regime num cenário de mais de 70% de analfabetismo em Portugal, utilizava o Futebol, o Fado, (adoro fado), e Fátima (a religião no seu todo), para dominar e instrumentalizar as consciências dos portugueses.
Eusébio foi utilizado como produto de venda quando depois de afectado fisicamente era obrigado a jogar em jogos internacionais para garantir receitas do clube.
Eusébio foi uma grande figura do futebol nacional e internacional, mas quantos portugueses não foram grandes figuras do desporto? São muitas as figuras do deporto que fizeram subir a Bandeira portuguesa e tocar o Hino Nacional nos jogos olímpicos, nos campeonatos europeus e mundiais!
E o José Mourinho, e o Luís Figo, e o Cristiano Ronaldo, (que se conservem por cá muito tempo),vão todos ser sepultados no Panteão Nacional?
Não retiremos o mérito a Eusébio, mas não confundamos a obra politica, social, cultural, artística, não confundamos aqueles que defenderam esta nação desde a sua fundação com o seu intelecto, com a própria vida, para que hoje fosse isso mesmo, Uma Nação, a Nossa Pátria. Não os comparemos com os elevados ao estatuto de heróis por marcarem golos no futebol.
A Lei n.º 50/2000, de 29 de Novembro, explicita a finalidade do Panteão Nacional: nº 1 do Artigo 2:
“As honras do Panteão destinam-se a homenagear e a perpetuar a memória dos cidadãos portugueses que se distinguiram por serviços prestados ao País, no exercício de altos cargos públicos, altos serviços militares, na expansão da cultura portuguesa, na criação literária, científica e artística ou na defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e da causa da liberdade”.
O Panteão Nacional é um monumento aos “que por obras valerosas, se vão da lei da Morte libertando. Luís Vaz de Camões”.
Não banalizemos o Panteão Nacional!
António Lemos
Foto: IGESPAR, http://www.igespar.pt/pt/monuments/51/
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