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O fim do Hotel Estoril Sol foi aprovado ontem, dia 12 de Dezembro de 2005, em reunião da Assembleia Municipal de Cascais, que se prolongou até à 1.30h do dia 13 de Dezembro, com os votos favoráveis da maioria PSD/CDS-PP e os votos contra de toda a oposição (CDU, PS, BE).
O Plano de Pormenor criticado por todas as forças da oposição, vai permitir a destruição daquele que foi até à data do seu encerramento, a verdadeira âncora do desenvolvimento da indústria turística e hoteleira de Cascais e que se diz ser a actividade económica estratégica e principal deste Concelho.
Assisti ontem ao debate na Assembleia Municipal sobre o referido plano de pormenor e fiquei abismado com as declarações proferidas pelo Presidente da Câmara, e pelos partidos políticos que compõem a maioria que sustenta o executivo da Câmara liderado por António Capucho.
Ao ouvir da boca de alguns deputados da Assembleia Municipal que o Hotel Estoril Sol não era rentável, que estava a cair, que os seus trabalhadores não foram despedidos mas indemnizados, que as torres de apartamentos que se vão construir em seu lugar fazem parte de uma estratégia de desenvolvimento de Cascais e ao ouvir o Presidente António Capucho afirmar que muitos trabalhadores saíram do Estoril Sol andaram 20 metros e entraram no hotel do lado e que Cascais tinha muitos hotéis em perspectiva, deduzi que das duas uma: ou todos estes responsáveis da Autarquia desconhecem por completo a realidade, ou pura e simplesmente limitam-se a mandar poeira para os olhos dos munícipes deste Concelho.
Quando do seu encerramento, o Hotel Estoril Sol, não só não estava a cair, como era uma unidade hoteleira rentável e o seu interior tinha sido remodelado há pouco tempo. Existiam planos para efectuar obras no seu exterior que contemplavam a possibilidade de lhe serem acrescentados alguns quartos, bem como um possível restaurante panorâmico (informações cedidas pela administração à Comissão de Trabalhadores em 2002).
O Hotel Estoril Sol trazia anualmente para Cascais uma média de 80 000 turistas, em 38 anos de vida alojou 3 milhões de turistas que consumiram nos restaurantes de Cascais mais de 8 milhões de refeições, que fizeram milhares de compras nos estabelecimentos de comércio, que utilizaram táxis centenas de milhares de vezes, que proporcionaram emprego a milhares de pessoas e que depositaram nos cofres da Câmara centenas de milhares de euros (contos) em impostos que serviram para pagar as obras necessárias ao bem-estar de toda a população do Concelho. Toda esta cadeia de riqueza que poderia servir o bem comum será destruída para que se construam torres de apartamentos em benefício de um grupo privado (Estoril Sol SA.).
Os hotéis então prometidos pelo Presidente da Câmara de Cascais, continuam a não existir, e o Sr. Presidente continua a tentar convencer-nos que esta enorme perda de capacidade hoteleira será compensada através da construção de mais 13 hotéis, que para os munícipes de Cascais são uma miragem que na prática ninguém vê e nem se sabe onde estão.
Os cerca de 300 trabalhadores do Hotel Estoril Sol foram despedidos, não ouve concertação nenhuma, ouve sim coação para que rapidamente e em curto prazo, assinassem um acordo individual com a empresa, e aos trabalhadores que resistiram foi-lhes levantado um processo de despedimento colectivo, que para alguns, ainda hoje decorre no Tribunal de Cascais. Os trabalhadores do Estoril Sol encontram-se hoje na sua grande maioria no desemprego pois a media de idades na altura do encerramento do Hotel rondava os 47 anos, eram portanto novos para se reformarem e velhos para se empregarem de novo.
O que assisti ontem naquela reunião da Assembleia foi uma enorme manifestação de hipocrisia e de cinismo, onde o Presidente da Câmara tudo fez para tapar o sol com a peneira, pois tal como os ex-trabalhadores do hotel sabem, os comerciantes da baixa de Cascais sabem, e os industriais de restauração sabem, também o Sr. Presidente sabe que o encerramento do Hotel Estoril Sol foi um desastre económico e social para Concelho de Cascais.
O Hotel Estoril Sol foi uma luz que iluminou Cascais durante longos anos, o Presidente da Câmara, Dr. António Capucho orgulha-se de ter apagado essa luz.
****António Lemos. (Funcionário do Hotel Estoril Sol durante 30 anos, Coordenador da Comissão de Trabalhadores e da Comissão Sindical). ****Cascais, 13 de Dezembro de 2005