Este espaço destina-se à divulgação de Noticias, Ideias e Pensamentos e ao debate de temas relacionados com o Ambiente, o Mar, a Politica, a Cidadania, o Turismo, a Sociedade e a Cultura em geral.
Quarta-feira, 23 de Março de 2005
Jacques Cousteau – Odisseia Submarina. A fecundidade do mar
Fauna e Flora.jpg A fecundidade do mar.
Se se nivelasse a crosta terrestre e desaparecessem tanto as grandes cadeias montanhosas, (a do Himalaia, por exemplo) como os grandes abismos oceânicos, (entre outros, a fossa submarina das Marianas), não apareceria terra firme acima da superfície do mar. A terra ficaria coberta por uma camada uniforme de água de mais de três mil metros de profundidade! Não há dúvida de que a terra é um planeta aquático e a água um bem precioso.
Desde as grandes extensões das suas águas superficiais até as suas praias e pântanos, sapais e lameiros de mangue, desde os seus milhares de quilómetros de costas rochosas até aos seus abismos mais profundos e escuros, o mar produz vida com uma abundância fantástica.
Não é de estranhar. Os oceanos constituem para facilitar a vida do que a terra. Proporcionam directamente a água fundamental para todas as formas de crescimento, contendo os sais vitais, os gases dissolvidos e os minerais. A temperatura da agua é mais constante que a do ar, (bastante mais temperada nas zonas pouco profundas e superficiais e bastante mais fresca na parte profunda), pelo que muitas espécies não têm necessidade de se adaptar ás grandes mudanças da temperatura terrestre.
As águas superficiais, ricas em oxigénio e banhadas pela luz do sol favorecem o desenvolvimento de plantas tão diversas como as que podemos encontrar em terra. Em 28 litros de água superficial há 20 000 plantas microscópicas, alem de centenas de animais platónicos. (a palavra Plâncton é de origem grega e significa “o que é feito para vaguear”). Mas o mais impressionante é o que escapa da rede mais fina. Os mesmos 28 litros de água podem conter mais de doze milhões de plantas unicelulares ou diatomáceas. Encerrada no seu refúgio cristalino de silício, fabricado por ela própria, cada célula reproduz-se com tanta rapidez, que num só mês pode chegar a produzir mil milhões de células.
Neste caldo vital flutuam milhares de milhões de ovos. O facto de algumas células só conseguirem sobreviver graças à sua imensa fertilidade, e ainda que só sobreviva um indivíduo, isso já pode ser considerado um êxito. Muitas criaturas marinhas, que são incapazes de proteger os seus ovos depois da desova, desenvolveram a capacidade de produzir enormes quantidades de descendentes. O caranguejo-azul põe sete mil ovos de uma só vez. A cavala-comum põe uns dez mil. Mas isto não é nada. Uma pescada pode produzir um milhão de ovos de cada vez. O badejo pode pôr entre doze mil e três milhões, e o bacalhau entre dois e nove milhões. A lebre-do-mar purpúrea produz vinte milhões de ovos e o peixe-lua, outros vinte. JACQUES COUSTEAU. ****** Os oceanos têm uma capacidade espantosa de renovação da sua fauna e flora, da vida em geral. No entanto as agressões do Homem são por vezes tão graves que chegam a por em causa, essa capacidade que os oceanos tem para se renovar constantemente. António Lemos





publicado por António Lemos às 14:44
link do post | comentar | favorito

Quarta-feira, 16 de Março de 2005
O Terceiro Infinito, Jacques Cousteau
.CAZN0WJY.jpg Há alguns anos, quis manter dentro do oceano um olho aberto de forma permanente, de modo que equipei a proa do meu navio, o Calypso, com um observatório submarino. Nessa altura, estava convencido de que os oceanos eram imensos, estavam repletos de vida e tinham todo o tipo de recursos. Durante longos percursos pelo Oceano Indico ou pelo Atlântico, passei muitas horas, tanto de dia como de noite, observando através dos meus postigos submarinos, sonhando com o capitão Nemo e o seu Nautilus. Mas pouco tempo depois, tive que aceitar a evidência: as águas azuis do mar aberto tinham, na maior parte das vezes, o aspecto desalentador de um deserto. Como nos desertos terrestres, estava muito longe de estar morto; mas o ingrediente vivo, o plâncton, formava uma camada delgada, como uma neblina, ligeiramente visível e monótonaPara além disso, em raras ocasiões, havia zonas que se convertiam em lugares de reunião; perto das margens ou nos baixios, ao redor das algas flutuantes ou de restos de naufrágios, costumavam reunir-se os peixes, oferecendo um espectáculo de vitalidade e beleza. Depois de mergulhar durante anos, descobri que acontece o mesmo no fundo do mar. Aí, bem como na zona intermédia, podem ver-se desertos intermináveis, no meio dos quais aparece, de vez em quando, um oásis exuberante.
A “teoria do oásis” iria ajudar-me a compreender que o oceano, apesar da sua grandeza, se medido numa escala humana, não é mais que uma delgada camada de água que cobre a maior parte do nosso planeta (que, de facto, é um mundo muito pequeno), que é extremamente frágil e que está à nossa mercê. Contudo, a vida teve origem no oceano primitivo, há aproximadamente, três mil e quinhentos milhões de anos em forma de células muito simples. As explorações mais recentes do espaço exterior demonstraram que o nosso planeta Terra (que é denominado planeta “Água”) é o único em todo o sistema solar que está dotado de consideráveis quantidades de água em estado líquido. A vida, que nasceu na água, deve ser pelo menos tão escassa como a água no universo, e por isso merece ser reverenciada, em qualquer das suas formas, como um milagre. Mergulhando em mar aberto, encontrei salpas, criaturas gelatinosas em forma de barril, unidas entre si, formando maravilhosas cadeias vivas de trinta metros de comprimento, que sem dúvida inspiraram a lenda do cinto divino de Vénus; a visão de uma Medusa, uma delicada cúpula transparente de cristal palpitante, sugeriu-me de forma irresistível que a vida se identificava com o sistema aquático do nosso planeta.
Noutra ocasião, quando mergulhava no mar Vermelho, no arquipélago que está em frente de Suakin, descobri que a água era tão clara, que os tubarões e as barracudas pareciam suspensos em um nada tridimensional, ao redor de exuberantes comunidades de recifes coralinos, uma mistura de zonas coloridas e de seres alvoraçados que nadavam, flutuavam, se arrastavam e simplesmente ali estavam; no recife reinava um grande barulho: coros de suaves rangidos, grunhidos e silvos executavam uma vibrante sinfonia em honra dos milagres da vida e da morte. Ai aprendi que na variedade está a essência de um sistema de vida saudável.
No mar de Oman, ao norte e a noroeste da costa da Somália encontrei inteligência nascida do mar: baleias, cachalotes, orcas e delfins, Os mamíferos marinhos demonstravam a sua força, a sua velocidade, a sua habilidade. E quanto mais observava as criaturas do mar, mais semelhantes me pareciam ás que vivem no nosso mundo seco. O comportamento dos peixes, das lulas, das aves ou das baleias rege-se pelas mesmas motivações básicas que o das serpentes dos insectos ou dos macacos. Na Minha opinião, era uma linda forma de comprovar a unidade da vida.
A ilha da Assunção, isolada no oceano Indico, ao norte de Madagáscar, era um dos santuários submarinos mais ricos que visitei em toda a minha vida: mas quando regressei, treze anos depois, comprovei o grande dano sofrido pelo extremo coralino da ilha, devido tanto à pesca indiscriminada como à contaminação. Tomei consciência então da fragilidade dos ecossistemas marinhos. Lamentavelmente, tive em seguida que reconhecer que todos os oceanos do mundo se estavam a deteriorar rapidamente. O mero tinha praticamente desaparecido no Mediterrâneo; a Grande Barreira de Recifes decaia pouco a pouco; os jardins de corais da Nova Caledónia estavam asfixiados e enterrados sob milhões de toneladas de desperdícios procedentes de um enorme complexo de extracção de níquel; dizimavam-se as baleias no Antárctico. Os homens não constituíam uma excepção: visitei os quase extintos Kawashkars do sul da Patagónia, os últimos “nómadas do mar” autênticos que ainda existem e estão a ponto de desaparecer; um povo andrajoso que, durante milénios, conseguira nu nos seus barcos, mergulhando na agua gelada para pescar amêijoas; actualmente restam menos de vinte. A fragilidade do ambiente marinho, a fragilidade do homem, assim como a precariedade dos recursos, são factos que temos que ter em conta.
Ao nível do mar, as ondas escavam grutas nas rochas e a erosão marinha cria praias de areia. Abaixo deste nível também se podem encontrar grutas e praias deste tipo, o que demonstra que, durante os períodos glaciares, a superfície dos oceanos se encontrava bastante mais abaixo do que na actualidade. Por sua vez, se se derretessem, a superfície subiria consideravelmente. Há dezassete mil anos, o estreito de Bering estava seco, as hordas de caçadores asiáticos passaram da Sibéria ao Alasca a pé e povoaram a América do Norte; os locais onde estão construídos a maioria dos nossos portos modernos (como os de Nova Iorque, Londres ou Tóquio) estavam a 150 metros de altura. É possível que esses mesmos portos se encontrem a 60 metros de profundidade dentro de poucos séculos. Na realidade, o mar condiciona todas as actividades humanas, gera a chuva, as inundações ou as secas, provoca mudanças constantes, tão lentas como bruscas, graduais como catastróficas. O nosso “futuro líquido” depende da previsão, do cuidado e do amor com que tratamos a nossa única fonte de água: os oceanos.
Entretanto o diminuto pulsar da vida, que floresce no meio do mar, continua a converter brilhantes gotinhas de água em jóias viventes. O milagre da vida desafia a lei universal da degradação, cria moléculas orgânicas extremamente complexas, organiza a matéria caótica em estruturas incrivelmente programadas, compostas por biliões de células. A contemplação da vida inspirou ao padre Teilhard de Chardin a sua meditação sobre os três infinitos: alem do infinitamente grande e o infinitamente pequeno, Teilhard falou-nos no infinitamente complexo a VIDA. ******Jacques Cousteau in “A Odisseia Submarina” ******A pesar de extenso este texto escrito por Jaques Cousteau alem de ser um belo texto é também um grito de alerta para os problemas que tal como ontem também hoje afectam os oceanos do nosso mal tratado planeta Terra. António Lemos




publicado por António Lemos às 12:34
link do post | comentar | favorito

Quarta-feira, 2 de Março de 2005
Jacques-Yves Cousteau (1910 – 1997)
 Jacques Cousteau, nascido em 11/Junho/1910, Saint André de Cubzac, França, foi um dos pioneiros da aventura submarina, oceanógrafo, cineasta e inventor, que popularizou o estudo da vida marinha através de inúmeros livros, filmes e programas de televisão, que ilustram as suas investigações submarinas. Apesar de não ser formalmente um cientista, foi destinado para as explorações submarinas pelas suas duas paixões: o oceano e o mergulho. A sua fascinação pelo mergulho inspirou-o a desenvolver, junto com Émile Gagnan, o Aqualung, também conhecido como Scuba (self-contained underwater breathing apparatus), que se tornou disponível comercialmente em 1946. Cousteau ajudou a inventar várias outras ferramentas úteis para os oceanógrafos. As experiências de Cousteau com filmagens submarinas começaram durante a II Guerra Mundial e, quando a guerra terminou, fundou e liderou o Grupo de Pesquisas Submarinas da Marinha da França, e com isso, continuou o seu trabalho. Para expandir o seu trabalho em exploração marinha, fundou inúmeras organizações de marketing, produção, engenharia e pesquisa, que foram incorporadas (1973) como o Grupo Cousteau. Em 1950, Cousteau transformou um navio britânico no Calypso, um navio de pesquisa oceanográfica no qual ele e seu grupo realizaram inúmeras expedições. Cousteau ganhou reconhecimento internacional com a publicação do livro: O Mundo Silencioso (1953), o primeiro de muitos livros. Dois anos depois adaptou o livro para um documentário que ganhou a Palma de Ouro (1956) no Festival Internacional de Cannes e o Prémio da Academia (1957). Aposentado da Marinha em 1956 com o título de capitão, Cousteau trabalhou como director do Instituto e Museu Oceanográfico do Mónaco. No início da década de 1960 conduziu experiências sobre Viver sob as Águas em laboratórios submarinos denominados: Conshelf I, II e III. Cousteau produziu e actuou em muitos programas de televisão, incluindo a série americana: O Mundo Submarino de Jacques Cousteau (1968-1976). Em 1974 formou a Cousteau Society, um grupo ambientalista sem fins lucrativos dedicado à conservação marinha. O seu último livro, Man, the Octopus, and the Orchid, foi publicado postumamente. ********O Mar Revolto vai publicar extractos da Odisseia Submarina de Jacques Cousteau, a partir de Março de 2005. António Lemos


publicado por António Lemos às 19:02
link do post | comentar | favorito

mais sobre mim
pesquisar
 
Novembro 2022
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5

6
7
8
9
10
11
12

13
14
15
16
17
18
19

20
21
22
23
24
25
26

27
28
30


posts recentes

Os povos querem a paz. O ...

A PESCA E A PRESERVAÇÃO D...

João Ferreira, DECLARAÇÃO...

O Legado da Kitty

Em Estado de Emergência, ...

Defender o Rio Sado contr...

Sylvia Earle, a Rainha do...

LUTAR EM TODAS AS FRENTES...

A comunicação social, a i...

EU QUERO O FIM DA CAÇA Á ...

Que Futuro: um progresso ...

Eu estava lá e não esqueç...

Faro de Cabo Ortegal

Visita ao Navio Hospital ...

TENDO O MAR COMO HORIZONT...

Em cascais, PSD, CDS e PS...

PS: UM JOGO NOVO?

VISITA A ESCAROUPIM, UMA ...

PSP de Cascais interrompe...

A Margarida Partiu, a dor...

arquivos

Novembro 2022

Abril 2021

Janeiro 2021

Outubro 2020

Abril 2020

Dezembro 2019

Abril 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Abril 2018

Março 2018

Janeiro 2018

Novembro 2017

Maio 2017

Março 2017

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Julho 2016

Junho 2016

Abril 2016

Janeiro 2016

Novembro 2015

Outubro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Junho 2010

Abril 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Novembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Maio 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Junho 2008

Abril 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Setembro 2007

Julho 2007

Junho 2007

Abril 2007

Março 2007

Fevereiro 2007

Janeiro 2007

Dezembro 2006

Novembro 2006

Outubro 2006

Setembro 2006

Julho 2006

Abril 2006

Março 2006

Janeiro 2006

Dezembro 2005

Novembro 2005

Setembro 2005

Julho 2005

Maio 2005

Abril 2005

Março 2005

Fevereiro 2005

Janeiro 2005

Dezembro 2004

favoritos

“A FESTA DO AVANTE”, MIGU...

links
blogs SAPO
subscrever feeds