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Domingo, 26 de Março de 2006
Globalização e o Desemprego
Chama-se Globalização ao crescimento da interdependência de todos os povos e países da superfície terrestre. Ora essa interdependência não seria por si só maléfica, se todos os países se encontrassem no mesmo patamar de desenvolvimentos económico e social, no entanto como todos sabemos existem na terra países pobres e países ricos, isto porque o meio-termo tende a desaparecer precisamente por causas imputadas à chamada globalização. Os países ricos, as grandes potencias económicas, agem hoje em matéria de globalização como um polvo, estendendo os seus tentáculos sobre os países subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento, onde através das grandes multinacionais e a troco da criação de emprego sempre em moldes precários e explorando mão-de-obra barata vão usufruindo de todas as benesses fiscais e outras, (como em Portugal, a cedência a preços simbólicos de grandes áreas de terreno publico), oferecidas pelos governos centrais e pelas autarquias. A globalização não afecta ou beneficia a todos de maneira uniforme: uns ganham muito, (as grandes potencias económicas) outros ganham menos, outros perdem, (os países mais pobres). Na prática exige-se mais produção a menos custo; ora isto só é possível com maior desenvolvimento da tecnologia ou então com mão-de-obra barata. A mão-de-obra barata de trabalhadores sem qualificação ou menos qualificados é precisamente o que as grandes multinacionais procuram nos países subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento, trabalhadores não qualificados são vulneráveis fáceis de convencer e assim que os objectivos económicos da empresa são atingidos, os trabalhadores são facilmente descartados, a empresa fecha as portas e deslocaliza-se, vende as instalações e o terreno que adquiriu a preço simbólico, por bom preço. Em conclusão não investiu nada, tudo foi lucro, não gerou riqueza no local onde se instalou, limitou-se a gerar desemprego e mais dramas sociais. É um problema nacional, dramático para os países mais pobres como Portugal, que perdem com a desvalorização das matérias-primas que exportam e o atraso tecnológico em que se encontram. O relatório da ONU deste ano sobre o desenvolvimento humano, comprova que a globalização está a concentrar riqueza: os países ricos ficam mais ricos, e os pobres, mais pobres. Há vários motivos para isso. Por exemplo: na redução das tarifas de importação, beneficiam muito mais os produtos que são exportados pelos países mais ricos, pois os mais ricos continuam a subsidiar os seus produtos agrícolas e outros, inviabilizando as exportações dos mais pobres. Abertura de mercados ao comércio internacional, a migração de capitais, a uniformização e expansão tecnológica, tudo isso, capitaneado por uma frenética expansão dos meios de comunicação, são forças incontroláveis que mudam hábitos e conceitos, procedimentos e instituições. O nosso mundo aparenta estar cada vez menor, mais restrito, com todos os seus cantos explorados e expostos à acção humana. É a globalização no seu sentido mais amplo, cujos reflexos se fazem sentir nos aspectos mais diversos da nossa vida económica, social e cultural. Portugal com os seus governos de direita (PSD/CDS-PP) ou de esquerda com politicas de direita (PS), tem permitido que as grades potências económicas através das suas multinacionais, bem como uma politica desenfreada de privatizações e um ataque sistemático aos direitos dos trabalhadores, tenham ao longo destes últimos anos criado uma situação de total descontrolo sobre o desemprego, o que levou a que se atingisse em 2006 a taxa de desemprego mais alta dos últimos 20 anos. A revolta que grassa por essa Europa fora, tendo como exemplo as manifestações em França, deveria ser entendida pelos governantes Europeus em geral e Portugueses em particular, como um sério aviso de que é necessário mudar as politicas de emprego, económicas, sociais e culturais.
***** António Lemos
O texto está muito bem escrito e não posso negar a veracidade de algumas conclusões, mas será que a culpa é da Globalização? Não me parece. Vejamos,
Uma história do séc. XX mostra dois períodos distintos. O período de 1914 a 1945 foi caracterizado por uma concorrência destruidora, guerras militares frias e quentes e guerras comerciais, despotismo e depressão. De 1945 até ao presente, o mundo tem beneficiado da cooperação, da ampliação dos laços comerciais, de uma expansão da democracia e de um crescimento económico rápido.
O contraste nítido entre a primeira e a segunda partes deste século é um aviso acerca dos bons resultados que derivam de uma gestão esclarecida das economias nacional e global. Economicamente nenhum país é uma ilha. (in SAMUELSON, Paul A. e NORDHAUS, William D., ECONOMIA, 16ª Edição, McGrawHill, 1999)
Actualmente, somos pressionados para olhar a concorrência estrangeira com um olhar de desconfiança e um comportamento em conformidade. Campanhas deste tipo: O que é nacional é bom! Compre o que é nosso! parecem patrióticas. No entanto, na maioria das vezes tais campanhas apenas servem para perpetuar ineficiências! À custa de quem? Do consumidor! Do cidadão comum! Que paga os bens a um preço superior ao que resultaria de uma relação de concorrência verdadeiramente livre e perfeita. O mesmo se passa com as medidas governamentais que constituem barreiras ao comércio, como sejam os impostos alfandegários, as ainda mais perversas quotas de importação/exportação ou as mais sofisticadas regulamentações legais com o mesmo efeito indirecto (e com a agravante da burocracia). As tão desejadas quotas às exportações de produtos chineses, pelas quais todos clamam! Estamos a ser invadidos pelos produtos chineses, ouve-se aqui e ali!
Tais barreiras têm elevados custos económicos que se reflectem no crescimento económico nacional e global! Isto porque os produtores internos, ao funcionarem com um protector de preço proporcionado pelo imposto, podem expandir a produção (nada mais inequivocamente artificial!); os consumidores deparam-se com preços obviamente mais elevados e vêem-se obrigados a reduzir o consumo e o governo ganha a receita do imposto. Em suma, os impostos alfandegários geram ineficiência económica. As perdas para os consumidores excedem o conjunto da receita obtida pelo Governo e dos lucros suplementares dos produtores. As quotas de importação têm ainda como agravante o facto de canalizarem o lucro da diferença de preço, não para o Governo (sob a forma de
receita fiscal, passível de redistribuição social), mas para os exportadores ou importadores que obtêm uma das escassas licenças para a exportação ou importação.
Uma outra parangona que muitas vezes se ouve é a da ameaça do trabalho barato estrangeiro! A ideia de que a liberdade de comércio internacional ampliada pelo efeito da globalização expõe os trabalhadores nacionais à concorrência dos trabalhadores estrangeiros com salários reduzidos. Quer ao nível do trabalho por estes desenvolvido em território nacional (A imigração de Leste, as lojas e os armazéns grossistas chineses! As consequências para o sector têxtil!), quer por via das importações de bens produzidos por empresas deslocalizadas para países de mão de obra mais barata. Este argumento é tentador, mas incorrecto. De facto, estes países conseguem produzir com um custo de produção inferior ao nosso, como tal, nós e qualquer outro país (o próprio crescimento económico global) só temos a ganhar se explorarmos as nossas vantagens comparativas face aos demais países. Segundo o princípio económico da vantagem comparativa cada país beneficiará se se especializar na produção e exportação dos bens que pode produzir com um custo relativamente menor e simultaneamente importar os bens que produz com um custo relativamente maior. Então, por que razão alimentar produções e empresas inviáveis? Não compramos, todos nós, produtos em lojas chinesas? Ou nos supermercados Lidl? Porquê? Porque os produtos são mais baratos! Culpamo-nos por isso? Certamente que não? O que é isto senão deslocalização, internacionalização, globalização? Devemos pensar, sim, que os euros que poupamos em cada um desses bens são canalizados para outros fins produtivos (ainda que sejam, mais consumo) e só por isso, economicamente mais eficiente.
Quanto ao trabalho (até porque o texto que ora se comenta se intitula Globalização e o Desemprego) não podemos esquecer os custos que este sistema pode impor temporariamente aos trabalhadores e às empresas afectadas. O encerramento das fábricas de uma determinada região em consequência da sua deslocalização para o estrangeiro, lançará um elevado número de trabalhadores no mercado de trabalho à procura de emprego. Sucede que embora a transição possa ser penosa para a maioria destes trabalhadores, a verdade é que no longo prazo o mercado de trabalho tranferirá os trabalhadores dos ramos em declínio para sectores mais avançados. Tal é fácil de entender e vários estudos o comprovam, se um trabalhador é substituído por outro com um salário mais baixo e menores condições laborais, terá necessariamente que se qualificar para poder vir a competir no mercado de trabalho em sectores mais avançados. No final o reajuste far-se-á pelo nível mais elevado.
Em suma, esta é a essência simples do comércio internacional globalizado, desde há muito que a ciência económica ensina que o comércio internacional é benéfico para um país. Incentiva a especialização, expande as possibilidades de consumo.
Mas, olhamos à nossa volta e pensamos: não é isto que vejo?! Vejo desemprego em toda a Europa que parece persistente, quiçá, estrutural! Vejo Desigualdades sociais cada vez maiores!
Pergunto: será culpa da globalização? Da internacionalização? Não, seguramente! A responsabilidade cabe aos decisores políticos, económicos e sociais, cuja acção deve ser, não no sentido de colocar entraves à internacionalização e à economia global, mas em atenuar os efeitos indesejáveis das suas falhas.
- Empreender políticas de redistribuição mais severas na tributação da riqueza (Riqueza, e não só rendimento), necessariamente acompanhadas de medidas de fiscalização, de garantia do cumprimento e punição dos prevaricadores;
- Políticas de educação, formação profissional e formação para a cidadania diferenciadas, focalizadas na inversão do ciclo vicioso da pobreza;
- Políticas de incentivo à melhoria do capital humano, através da formação contínua dos trabalhadores que lhes permita uma transferência, senão automática, pelo menos mais célere, para sectores mais qualificados e com maior empregabilidade.
Afinal é a globalização que nos permite a mobilidade geográfica, a troca de conhecimentos à escala global. É graças a ela que estamos aqui hoje, neste intercâmbio de opiniões!!
De clementina henriques a 3 de Agosto de 2008 às 00:11
Aconselho-a, vivamente, a nao restringir a sua leitura sobre globalização ao SAMUELSON, Paul A. e NORDHAUS, William . Ja agora sugeria também qua a discussão, deveras interessante, se centrasse na globalização e emprego. Pois deve ser isso que nos interessa verdadeiramente nos tempos actuais. Como criar emprego e que tipo de emprego. Nao se esqueça que tempos passados o sector secundário absorveu o desemprego da agricultura;depois o treciário absorveu, em alguma medida, o do 2º e agora? É a dita nova economia no país de iletrados e analfabetos funcionais? Pense bem nisso e reveja as suas leituras.
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